terça-feira, 31 de maio de 2011

Idiotas!

A postagem anterior, sobre o "preconceito linguístico", me fez lembrar parte de um texto que li há algum tempo, que reflete a triste realidade do mundo, em geral, e do nosso país, em particular. 

Idiotas!
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Folha de São Paulo, 02.06.05
(..) O fenômeno é relativamente recente. Os idiotas sempre foram maioria, desde tempos imemoriais. Só que antigamente o idiota era submisso e humilde. Não se aventurava fora de limites estreitos e bem definidos. De repente (mais precisamente no século 20), ocorre a sublevação jamais vista, nunca imaginada. Os idiotas descobrem o óbvio: "Somos maioria, esmagadora maioria". E passaram o trator por cima dos melhores. Começaram a se projetar em escala global (a própria "globalização" é, no essencial, obra límpida e inequívoca dos idiotas).

Os papéis se inverteram. Funções e responsabilidades antes reservadas aos melhores passaram a ser exercidas por idiotas de babar na gravata. Qualificações exigidas: alguma habilidade, marketing, jogo de cintura, 
palavra fácil e audácia. Com base nisso, passaram a governar países, dirigir empresas, dar aulaspublicar livrosproferir conferências, conceder entrevistas etc.

Na nossa época, os inteligentes, os sensíveis, os profundos vivem totalmente acuados. Para não serem massacrados, muitos simulam idiotice. Nelson Rodrigues falava dos "falsos cretinos", sujeitos inteligentes e até excepcionais que se vêem, entretanto, compelidos a disfarçar o seu talento como se se tratasse de alguma mácula, algum pecado, alguma tara vergonhosa.

É claro que em outras épocas sempre havia um ou outro idiota em posição de destaque. Mas agora os idiotas estão em todas as áreas e dominam grande parte da cena.
 (...)


domingo, 29 de maio de 2011

David Coimbra, o fim do mundo e "os idiota".

Se você acha que há um erro de concordância no título desta postagem, cuidado! Você pode ser tachado de preconceituoso. Sim, você estará praticando o chamado "preconceito linguístico", algo que você NÃO deve manifestar ao ouvir alguém dizer "nóis pega os peixe", sob pena de ser chamado de reacionário!

"Preconceito linguístico" é o debate da moda. Eis aí uma das expressões mais ridículas que eu já ouvi e chega a ser inacreditável que, no Brasil de hoje, "intelectuais" basicamente ensinem às crianças que falar errado está certo.  Isto é, seria inacreditável se: (a) o Tiririca não tivesse sido o deputado mais votado do país, (b) se o debate não contasse com a chancela do MEC em defesa de quem fala errado e (c) se o MEC não estivesse inserido num contexto governamental onde tanta coisa errada é feita como se fosse certo.

Quem melhor sintetizou esse debate do preconceito linguístico foi o David Coimbra (vale a pena conferir: http://wp.clicrbs.com.br/davidcoimbra/2011/05/26/aos-que-me-chamam-de-imbecil-com-carinho/?topo=77,1,). Eu sempre gostei do David Coimbra. Mas agora eu ADORO o David Coimbra, por duas razões:

Primeiro, porque com ele eu conquistei meu salvo conduto para dizer palavrões à vontade. É que, se alguém não gostar, eu estarei sendo, simplesmente, vítima de preconceito linguístico. Talvez a celeuma tenha valido só por isso...

Segundo, porque lendo a postagem que ele, carinhosamente, dedicou aos que o chamaram de imbecil, eu deixei de temer o fim do mundo. Acompanhar os ataques que foram dirigidos ao David porque ele disse o que pensa (e porque pensou certo) deixou-me, finalmente, convencida de que não é que o mundo possa acabar -- o mundo DEVE acabar!(1)

Não sei se quero estar viva para assistir à tomada do mundo pelos idiotas. Ou pelos idiota -- sem preconceito linguístico.

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(1) A frase genial, cunhada pelo José Simão, refletia a perplexidade do gênio com o fato de, no Poder Legislativo, termos o Dep. Tiririca na comissão da educação, o Dep. Jair Bolsonaro na comissão dos direitos humanos, e o Sen. Renan Calheiros no Conselho de Ética... Como ele disse, não é que o mundo possa acabar, o mundo tem que acabar!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Taxa de Inspeção Veicular: Quando os Meios Não Levam aos Fins

Essa taxa de inspeção veicular tem mesmo que gerar debates, pois as propostas surgem cada vez mais contraditórias.
Primeiro, foi a constatação de que o primeiro lote a ser inspecionado é o dos veículos mais novos. Justamente aqueles que já foram fabricados sob uma política de necessidade de redução na emissão de poluentes!
Agora, fala-se em dar desconto no valor da taxa aos automóveis fabricados antes de 1987, e o Detran, para não assustar os donos de carros mais velhos (justamente aqueles responsáveis pela maior emissão de poluentes), afirma que "as exigências da inspeção serão adaptadas ao ano de fabricação".  Eis aí um belo eufemismo para revelar que essa inspeção veicular não vai dar em nada, pois quem mais polui será inspecionado sob critérios mais flexíveis, para poder continuar poluindo. Afinal, seria politicamente incorreto adotar medidas para tirar os ferros-velhos de circulação e deixar os menos aquinhoados sem meio de transporte. Pobre dos pobrezinhos: continuarão indiretamente incentivados a comprar carros velhos e sem a menor condição de circular com segurança física e ambiental. Isso para não utilizarem o transporte público, já que até pobre sabe: é muito caro, muito demorado, super-lotado. A melhor alternativa, então, é continuar com o carro-velho, poluindo e se endividando para mantê-lo em condições de ser inspecionado. Parêntesis: como o mercado sempre se adapta rapidamente às novas exigências, estou até antevendo a criação de um serviço de locação de pneus novos, apenas para o carro fazer bonito na hora da inspeção... Me engana que eu gosto!
Enfim, se eu entendi bem, para melhorar a circulação e racionalizar a emissão de poluentes, escolheu-se o meio da inspeção veicular (com aqueles critérios flexíveis, lembre-se). Custo zero de implementação para o Estado, pois basta uma lei.
Investir na otimização do transporte público para torná-lo, efetivamente, uma alternativa ao público, exige mudanças estruturais e também dinheiro, ou seja, dá muito mais trabalho do que apenas discutir o remendo legislativo da inspeção. O Estado teria que trabalhar - um verdadeiro insulto para quem já se acostumou ao placebo legislativo! Então, vamos à inspeção veicular, ainda que o meio escolhido não leve aos fins desejados.
Será que eu perdi alguma coisa?

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Bin Laden, Direitos Humanos e o Lado Humano de Cada Um

Estávamos todos lá, professores da Faculdade de Direito -- alguns de nós professores de um Curso de Mestrado em Direitos Humanos -- numa discussão de alto nível intelectual sobre a operação que capturou e matou o líder do Al Qaeda, Osama Bin Laden.
De um lado, aqueles que destacavam o desrespeito aos direitos humanos pelos Estados Unidos (que deveriam, supostamente, dar o exemplo de proteção) por atirar em um sujeito que, nas circunstâncias, encontrava-se indefeso ou, senão tanto, sem condições de oferecer resistência "à altura".  Diziam que uma nação que pretende ser o norte de civilidade e respeito aos direitos de liberdade deveria ter levado Bin Laden a um julgamento nos padrões ocidentais, dentro do due process of law,  que seria tudo o que ele repudiava. Assim, daríamos ao mundo a prova definitiva de que a civilização ocidental tem condições de fixar os standards éticos universais na proteção dos direitos do indivíduo.
De outro lado,  defendia-se a operação sob os mais diversos pontos de vista. Do ponto de vista estratégico, defendia-se que a ordem para matar Bin Laden consistia em damage control e não poderia ser de outra forma, pois mantê-lo preso aguardando julgamento estimularia uma série de novos atentados, além da já conhecida chantagem para a libertação de prisioneiros capturados, que consiste basicamente em atentados à bomba ou sequestro, tortura e assassinato de civis ocidentais, tudo televisionado para a internet, com o fim de demonstrar que os malvadões são os militares americanos que não libertam os presos do Al Qaeda. Uma espécie de estado de necessidade. Do ponto de vista jurídico, destacava-se a proteção dos direitos humanos dos cidadãos americanos, que tiveram os sagrados direitos à segurança e ao sossego ceifados por Bin Laden no terrível ataque às torres do World Trade Center e que, desde aquele triste episódio, vivem sob constante ameaça. Daí se avançou na discussão para determinar se a constante ameaça imposta pelo terrorismo preenchia o conceito de ameaça injusta, atual e iminente, o que então justificaria uma atuação em legítima defesa (da nação)...
Tudo muito técnico e politicamente correto (como são quase sempre as discussões em torno dos direitos humanos) e todos nós muito controlados para nos mantermos dentro dos padrões de objetividade que uma discussão séria idealmente exige... Até que alguém fez o seguinte comentário:
"-- Para mim, a operação teve um único defeito: os americanos deveriam ter torturado o Bin Laden antes de matá-lo. Só matá-lo foi um fim muito simplório para um questão tão complexa..."
O tom foi de brincadeira e mudou o rumo da discussão, afinal, abriu-se uma fenda na represa e o lado humano de cada um começou a jorrar que nem a água das Cataratas do Iguaçu. Aí foi o concurso da "brincadeira" mais politicamente incorreta, sendo as brincadeiras o inocente condutor do nosso lado mais visceral, vingativo, cruel e justiceiro. Foi também a parte mais divertida daquela manhã, pois meus amigos e eu somos, realmente, criativos.
Moral da história: existem os diretos humanos. Mas também o lado humano de cada um.