terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Falou e Disse

"A política é a única atividade humana que não admite espaços vazios e, se os íntegros, cultos e competentes se omitem, estas lacunas serão imediatamente ocupadas pelos desonestos, maquiavélicos e trambiqueiros. Nada mais propício ao oportunista e ao mau-caráter do que uma geração despolitizada."
(José J. Camargo - A Dolorosa Morte da Ideologia - Opinião, ZH 16/02/2011)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Custo Prada

Diz a lenda que o Diabo veste Prada e mulheres como eu, de vez em quando, ficam mesmo endiabradas (e bem burrinhas, diga-se de passagem). De toda viagem que se preze, trazemos compras na bagagem - e as profissionais sabem, comprar bem é uma arte. Não é só o péssimo hábito consumista que nos consome de forma subliminar. É que as compras vendem (além da sensação de poder) a ideia de que, finda a viagem, as sensações e o prazer de estarmos fora, num lugar que escolhemos e desejamos visitar, se prolongarão através das fotos, souvenirs e, no meu caso, também dos sapatos...

Sendo assim, é natural que se faça uma visita à loja da Prada. A Prada entende mulheres que, como eu, gostam de si mesmas e não se rendem à pura vaidade e ao sofrimento do salto alto. Por isso, ela tem sempre opções bonitas, com salto baixo e até sem salto - sem cara de sapato da vovó. Tenho que prezar a Prada, porque o maior obstáculo entre mim e os mais belos sapatos do mundo é sempre o tamanho do salto: de cima deles, me sinto uma gazela desengonçada, não tem jeito. Mas, como eu disse, a Prada me entende e sempre tem alguma coisa pra mim. Só que minha visita à loja da Prada em Zurique tirou toda a magia da arte de se enamorar e comprar um sapato veramente italiano, um sapato confortável desde o primeiro dia e que faça bonito em qualquer ocasião - que se pague, portanto.

Então lá estava eu na Prada em Zurique. E descobri que não há nada como uma liquidação para tirar o glamour de certas coisas. Ao descer no subsolo, onde estavam os sapatos, a vendedora me informou que eles estavam on sale (antigamente esta era uma palavra mágica, hoje já não sei...), com 50% de desconto. A cena era de total desolação, um monte de caixas empilhadas com os sapatos por cima, parecia coisa de outlet de sapato de quinta em Capão da Canoa. Olhei, olhei, olhei e torci o nariz pra tudo. A vendedora me olhava ansiosa, de certo achava que eu ia me atirar na tal liquidação, o que, de certa forma, me subestimava. Afinal, ali estava o resto da coleção de inverno, ou seja, os sapatos que ninguém quis - e porque eu os ia querer? Também me subestimava por achar que eu seria estúpida de pagar 300 euros (já com o desconto de 50% sobre o preço original de 600) por sapatos horrorosos só porque eram da Prada. Uma ofensa!

Decepcionada, pedi para ver as bolsas, mas não consegui ir adiante nas compras pois não parava de pensar naquela pilha de sapatos que logo desencadeou outra série de elucubrações. Imaginei a Prada comprando na China sapatos horrorosos só para vender na liquidação com a etiqueta Prada, para semi-idiotas como eu. Transformando magicamente o preço de um sapato que na China deveria custar, se tanto, EUR 8,00, em 600,00, para vender a 300,00 com um desconto de 50% e deixar as clientes faceiras por terem feito um ótimo negócio...

Fiquei pensando: - como a Prada consegue cobrar 600 no lançamento, e depois 300 na liquidação, por um sapato que vale 8?! Foi então que desvendei o custo Prada, fazendo mentalmente uma conta análoga à da propaganda do Mastercard. Aluguel na melhor rua central de Zurique: 12 mil euros mensais. Loja padrão, finamente decorada: investimento de meio milhão de euros (está incluída a iluminação especial e os espelhos que fazem a nossa pele parecer maravilhosa). Vendedoras que falam vários idiomas: 3 mil euros mensais cada uma, sem as comissões. Água e cafezinho para os maridos das clientes: 10 euros. Sofá onde eles ficam esquecidos enquanto esperam emburrados: 2 mil euros. Temperatura ambiente: 800 euros mensais. Lindas embalagens e sacolas: 2 euros cada. Sem falar que em toda loja cara tem aquele vendedor bronzeado, com um sotaque italiano carregado, magro, alto, de cabelos negros, fartos e brilhosos, com um sorriso perfeito, que está sempre indo fazer alguma coisa perto de onde nós estamos e se detém ao se surpreender com os nossos pés, que são sempre lindos, ou com o tal casaco que nos caiu tão bem: esse sujeito, naturalmente, não tem preço!!! Assim, um sapato de 8 passa a 600 e sai por 300, num ótimo negócio para as cliente espertas...

Desvendar o custo Prada foi como mágica para mim. O produto é secundário e, para simplesmente estar ali, não valia pagar 300 euros. Agradeci à vendedora com gentileza e dirigi-me à saída sem nenhum euro a menos na carteira, nenhuma sacolinha na mão, triunfante! Eu não caí no conto Prada!

Naquela tarde mudei meus planos, nada de perambular pelas lojas na arte de comprar bem. Baixei um novo livro no meu Kindle e sentei num café para ler, tomando um chocolate quente e olhando de vez em quando o movimento. Me senti realmente inteligente, altiva... superior!!! Toda essa superioridade durou exatos 10 dias. Terminou na Itália, justamente na loja da Prada em Firenze. Agora, toda colorida com a recém-chegada nova coleção, lindamente exposta e pelos velhos muitos euros... Ai ai... Me engana que eu gosto!!!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Silêncio Eloquente

Quando uma mulher opta pelo silêncio, tenha muita cautela.
Mulher só se cala em sinal de protesto.