domingo, 5 de setembro de 2010

Lição n. 1: O que importa na vida não está à venda...

Minha primeira lição é o óbvio. As coisas que realmente importam na vida não têm preço. Todo mundo sabe disso. Será que sabe mesmo?

Pertencemos a uma massa, muitas vezes acrítica, que, sendo objeto da chamada sociedade de consumo, pensa que todos os problemas podem ser resolvidos no shopping. Não se façam de desentendidos, é assim mesmo! E não pensem que a massa são sempre "os outros", somos todos protagonistas deste sistema. Estamos programados para consumir, e assim consumimos nossas vidas (para uma percepção macrossistêmica da sociedade de consumo e outras grandes lições para todos nós, sabichões, vale a pena conferir: http://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k).

A verdade é que todos nós, em maior ou menor proporção, pensamos muito mais naquilo que não temos do que naquilo que já temos. E a felicidade passa a estar sempre no próximo objeto de desejo, e o próximo, e depois o próximo, de modo que vamos nos tornando insaciáveis e a felicidade cada vez mais volátil: satisfazemos um desejo mas a felicidade dura pouco porque já estamos pensando no próximo. Tudo contribui para que a gente consuma: a TV, a propaganda, o telefone. As vezes estamos em casa, sossegados, e liga uma vendedora de uma loja qualquer avisando que tem novidades, que chegou isso ou aquilo... Uma invasão total.

Tem ainda o pior, a auto-justificação que nos redime de todos os pecados: porque colhemos os frutos do nosso duro trabalho, achamos que simplesmente "merecemos" consumir. Coisas são um luxo que nos presenteamos para sabermos o quanto nós somos bons, bem sucedidos, ou seja, estamos sempre arrumando desculpas para justificar o quanto nos tornamos materialistas e só pensamos nas coisas. E também porque somos bons, chegamos lá, e blá-blá-blá, queremos satisfazer todos os desejos dos nossos filhos, para que não passem as privações por que passamos (e não estou falando de fome, sede, sono, abrigo, e sim daquela boneca ou do tênis Nike que todos tinham na escola menos eu. Não queremos que eles sofram. Meu Deus, sofrer por tênis ou boneca, que horror!). Pois é, gente, chega de me engana que eu gosto, nós somos assim. Façamos a mea culpa. A verdade nua e crua sempre choca, porém, o primeiro passo para crescer é realmente enxergar a nossa condição humana e falha - ou a vida como ela é.

Pois refleti muito sobre tudo isso, quando pensei que poderia ficar privada do sorriso do meu filho no futuro. Quando pensei na minha vida sem ele e sem o lindo sorriso dele, sempre oferecendo a bochechinha para um beijinho da mamãe e sempre andando em marcha-ré para se aconchegar no meu colinho. Basta que o André me veja sentada em qualquer lugar que lá vem ele, em marcha-"dé", para ganhar um colinho. Só de pensar numa vida sem isso eu senti uma dor enorme, física inclusive. Meu peito doía, a barriga doía, minhas pernas doíam, a cabeça doía.

Lamentei ter que ter sentido tanta dor para compreender que a felicidade está em apenas ver o filho da gente alegre e saltitante e para ver que eu era feliz todos os dias, mesmo naqueles em que estava triste. E com isso, uma grande lição: as coisas que realmente importam não estão à venda e nem cabem em uma sacola. A lição que todo mundo sabe, mas pouca gente entende.


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P.S. Se servir de consolo, não pensem que nossa geração é que piorou a humanidade. Vejam o que escreveu Thomas Hobbes (1588-1679), que viveu no século XVI: 
E ao homem é impossível viver quando seus desejos chegam ao fim, tal como quando seus sentidos e imaginação ficam paralisados. A felicidade é um contínuo progresso do desejo, de um objeto para outro, não sendo a obtenção do primeiro outra coisa senão o caminho para conseguir o segundo... Assinalo assim, em primeiro lugar, como tendência geral de todos os homens, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que cessa apenas com a morte.

2 comentários:

  1. Às vezes uma crise nos reafirma os valores essenciais. Belo texto. Abç.

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  2. Obrigada LF. Pena que precisamos da crise para que eles sobrevivam. Abs.

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